terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ...

O CABEÇA DE ALHO CHOCHO

Era uma cabeça de alho chocho.
Não fixava nada.
A mãe dizia-lhe:
- Vai à farmácia e traz-me um frasco de álcool. Vai à padaria e traz-me meia dúzia de pãezinhos.

Ela ia à farmácia e pedia:
- Meia dúzia de pãezinhos se faz favor.
- Não temos - diziam-lhe, na farmácia.

Ia à padaria e pedia:
- Um frasco de álcool, se faz favor.
- Não temos - diziam-lhe, na padaria.

Então ele voltava para casa e despachava-se assim:
- Está tudo esgotado, mãe. Posso ir brincar?

Outras vezes, a mãe dizia-lhe:
- Vai à mercearia e compras-me três quilos de bacalhau e cento e vinte cinco gramas de azeitonas pretas.

Passado um bocado, ele, o cabeça de alho chocho, voltava ao pé-coxinho pelo passeio e despachava-se assim:
- Mãe, eles na mercearia dizem que cento e vinte e cinco de bacalhau nem que fossem só espinhas e três quilos de azeitonas pretas não têm que chegue. Posso ir brincar?

Mas a mãe não desistia. No Natal, recomendou-lhe:
- Levas este embrulhinho para o vizinho Almiro e este bolo de amêndoas para a tia Clotilde, com as nossas boas festas.

Recado feito, voltava ele, o cabeça de alho chocho:
- Ó mãe, o vizinho Almiro agradece, mas diz que não pode comer bolos, porque é diabético e a tia Clotilde, depois de abrir o embrulho, perguntou-me se andamos a brincar com ela ou quê... A propósito, posso ir brincar?

Sabem o que continha o embrulho?
Continha uma loção para depois da barba, que, sendo para o senhor Almiro, estaria bem, mas para a tia Clotilde, um pouco forte de buço, já parecia mal...

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui