O tema "crise" é e será, infelizmente, actual e central nos próximos anos.
A crise financeira internacional que eclodiu em 2008 - agudizando as situações financeiras da generalidade dos países do Mundo, em especial dos europeus - teve um fortíssimo impacto económico e social, visível sobretudo no aumento do desemprego, da exclusão, e da pobreza.
Recentemente, um relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) alertou para o facto de a pobreza extrema estar a aumentar exponencialmente na última década (de realçar que o número de indivíduos em situação de extrema pobreza aumentou 3 milhões por ano entre 2002 e 2007, anos de forte crescimento económico, com médias de 7%), tendo atingido, em 2007, 421 milhões de pessoas em todo o Mundo, ou seja, duas vezes mais do que em 1980.
E embora este documento faça um balanço a uma década da evolução dos países mais pobres do Mundo, a verdade é que também os países europeus se viram, na última década, fortemente atingidos por este flagelo: exceptuando poucos países (nomeadamente Portugal, onde a taxa de risco de pobreza diminuiu de 21%, em 2000, para 18,1%, em 2007), dados do Eurostat de 2010 mostram que, mesmo antes desta crise, de 2000 a 2007 a taxa de risco de pobreza na UE aumentou de 16% para 16,2% e na Zona Euro de 15% para 16,5%, sendo a tendência de aumento transversal à generalidade dos países europeus.
Parecendo, assim, forçoso reconhecer que a globalização financeira desregulada falhou no contributo para melhorar o crescimento do emprego e os níveis de bem-estar social - uma vez que intensificou a instabilidade económica e social - um pouco por todo o Mundo se procuram, agora, respostas a esta crise.
E um dado parece certo: à crise actual não se responde com as receitas que estiveram na sua origem. Num período em que se pede grandes sacrifícios aos cidadãos - que geram, naturalmente, descontentamento, sentimento propício ao aparecimento de soluções messiânicas e de um discurso antipolítico - urge robustecer uma concepção humanista de democracia, alicerçada em princípios éticos que visem, mormente, a defesa da dignidade pessoal e social.
Nesta medida, caberá também ao futuro presidente da República manter-se vigilante na defesa de um humanismo solidário e da dignidade da pessoa humana, este último princípio jurídico central da Constituição da República Portuguesa.
Glória Rebelo, aqui