sábado, 8 de janeiro de 2011

HÁ 138 000 EUROS PARA TAPAR O SOL AOS CARROS MAS FALTA DINHEIRO PARA ARRANJAR MURO QUE AMEAÇA VIDAS HUMANAS

"Não há dinheiro para arranjar o muro da Escola José Falcão, em Coimbra, que ameaça a vida de pessoas, mas há 138 mil euros para tapar o sol aos carros dos funcionários da DREC. Isto é um escândalo e anedótico", acusam professores e encarregados de educação.

Para a Associação de Pais da Escola Secundária José Falcão (AP/ESJF), de Coimbra, para professores e alunos ouvidos pelo JN e para o Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), "investir na cobertura de um parque de estacionamento ao ar livre, quando não há dinheiro para recuperar um muro decrépito e perigosíssimo, com cinco a seis metros de altura, na confluência da Rua Henriques Seco com a Avenida D. Afonso Henriques, que está a pôr em risco as pessoas e os carros que por ali passam, é uma "provocação", um atentado à inteligência".

Luís Lobo, dirigente do SPRC, disse ao JN que "é lamentável que, ao mesmo tempo que o Governo decide cortar 5,5% dos orçamentos de funcionamento das escolas e que o parque escolar de Coimbra precisava de ter uma intervenção que, por um lado, garantisse a sua conservação e, por outro, resolvesse alguns problemas estruturais das escolas, se assista a este despesismo, apenas para garantir a conservação não de qualquer bem público, mas tão só de bens privados".

"Espante-se (se ainda alguém se espanta!) o comum dos mortais com os 138 mil euros gastos em coberturas individuais para os automóveis designadamente dos dirigentes da DREC, através de serviço contratado à Ramos Catarino - Arquitectura de Interiores e Construção, Ldª., por ajuste directo!", afirma Luís Lobo, sublinhando que "depois não há dinheiro! Pois não, a gastar-se desta maneira!".

"Quanto mais disto haverá?"
O dirigente do SPRC ressalva que "estas são as coisas que vêm à tona!" e lança uma questão: "Quanto mais disto haverá espalhado pelas várias capitanias do Ministério da Educação e de outros organismos do mesmo Governo que imporá tantos sacrifícios aos portugueses neste ano que agora se inicia?".

Ao JN, a presidente da AP/ESJF, Ana Costa, afirmou-se "chocada" com as prioridades e o "desprezo da DREC":

"Enviámos uma carta à DREC, que ela recebeu no dia 3 de Dezembro, a solicitar intervenção urgente na recuperação do muro, que pode cair a todo o instante. Alertámos para o perigo e que terão de assumir responsabilidades caso ali morra alguém. Até hoje, a resposta foi o desprezo. Sabemos apenas que a DREC disse à Direcção da escola que não tinha dinheiro para obras".

Ana Costa diz que enquanto mãe e presidente da AP/ESJF não aceita que "proteger do Sol e da chuva os carros dos funcionários seja mais importante do que proteger a vida das pessoas que circundam a Escola José Falcão".

"Um luxo ofensivo"
O director da escola, Paulo Ferreira, recusou comentar o assunto, mas um docente daquele estabelecimento, que falou ao JN sob anonimato, classificou de "vergonhosa" esta "incoerência e incongruência da DREC". "Não sei se deva rir ou exigir que esta gente vá já para a rua, por má gestão dos dinheiros públicos", afirma, classificando a cobertura do parque automóvel da DREC de "um luxo ofensivo dos portugueses a quem o Governo exige sacrifícios".

Em resposta às críticas, a DREC diz ser "desajustada" e "desenquadrada" a associação das obras ocorridas nas suas instalações - garante a DREC que foram "realizadas em 2009", mas o certo é que a publicação do ajuste directo só aconteceu no final daquele ano - com as obras reivindicadas para a "José Falcão". Por outro lado, assegura que a reconstrução do muro daquela escola é uma "prioridade absoluta", pelo que "estão a ser desencadeados os procedimentos legais devidos".

Miguel Gonçalvesaqui