sábado, 22 de janeiro de 2011

ATÉ QUE O CÉU NOS CAIA EM CIMA

O povo português é muito parecido com uns certos tipos de uma aldeia gaulesa que resistiram (na banda desenhada) ao império romano.

Os portugueses não têm medo de nada, a não ser que o céu lhes caia em cima.

Estamos em crise? Estamos, sim senhor! Não há dinheiro para mandar cantar um cego? Não há, não senhor! Mas para comprar viaturas, olaré que o dinheiro aparece.

No ano que há pouco terminou, Portugal foi dos países em que a venda de carros mais aumentou. Carros de luxo foi um fartote, venderam-se mais 50 % que no ano anterior. Só Porsche foram mais 88 %.

Eu gosto muito do povo que sou. Sou português e vejo muitas virtudes neste povo. É generoso, optimista no seu pessimismo de nascença, trabalhador fora de portas e tantas outras coisas. Mas confesso que ando cansado de tantas desculpas para a falta de lucidez. Estou numa fase em que ando cansado de fazer parte de um rebanho, de uma manada que encontra no guia supremo todas as desculpas para o que corre mal.

Ando um pouco cansado de olharem para mim como português que sou e poderem pensar que também eu vivo o hoje sem pensar no que pode acontecer amanhã. Não percebo como tanta gente correu a comprar carro novo, para poupar uns cobres nos impostos, num momento de tanta incerteza. Começo a ficar farto deste povo que só quer comprar na esperança de que alguém pague por ele.

O céu começa de facto a cair-nos em cima. Ou levantamos a cabeça e empurramos o céu para o seu lugar natural ou o medo vai tomar conta de nós e impedir-nos de lutar por uma vida vivida com dignidade.

Paulo Baldaia, aqui