Ao ler a Imprensa de ontem, uma notícia de segundas páginas, inserta no JN, colheu a minha atenção.
Efectivamente, os portugueses, todos aqueles que podem combatê-la, têm de corar de vergonha ao saber que há fome em Portugal. Mas, haver quem se aproveite da miséria de alguns não nos deve deixar menos perturbados nos nossos sentimentos e acções no combate a esse grau zero da condição para viver.
Por isso, neste turbilhão de notícias sobre as várias movimentações de solidariedade entre os nossos concidadãos, por iniciativa própria ou de várias organizações sociais, para esse flagelo incompreensível num país europeu, a denúncia feita pelo bispo de Viseu é uma denúncia merecedora da maior atenção.
D. Ilídio Leandro declara que, aproveitando-se da pobreza e miséria de muitas pessoas há "redes de pedintes organizadas" que, nos dias de culto, distribuem à porta das igrejas, seus contratados, para, deste modo, operacionalizarem uma recolha de fundos. A nota episcopal diz que se trata de "um trabalho, à maneira de empresa, servindo os interesses de uma organização".
Vindo de quem vem, não me parece que seja de pôr em dúvida esta denúncia. Num tempo destes, assume até foros de corajosa. Este alerta desperta-nos para um ponto que não deveria ser descurado. Para combater com eficácia a fome exigem-se acções concertadas. A dramática situação a que chegaram muitos portugueses (cujas estatísticas carecem de um acerto comprovado) agravou-se pelo efeito de uma crise devastadora junto de famílias, já necessitadas, e outras afectadas pelo imparável desemprego.
Conscientes desta desesperante situação, a que um Estado, dito social, não tem conseguido valer, as numerosas associações de solidariedade que, felizmente, existem no país, têm-se multiplicado em acções de combate para que, à pobreza, não se junte a fome. Desde o Banco Alimentar Contra a Fome, a Cáritas, a Legião da Boa Vontade, as conferências vicentinas, os diferentes centros sociais das dioceses têm-se desdobrado em várias campanhas e acções para fazer frente a esta situação.
Existem pobres já identificados. Existem outros não declarados e em situação da chamada "pobreza envergonhada". Porém, a denúncia do bispo de Viseu contém um avisado alerta: era importante que as organizações que trabalham neste campo, tivessem entre si o máximo de informação e uma possível coordenação, para que, neste "mundo-cão", da fome e miséria de uns não se aproveitem outros.
Paquete de Oliveira, aqui