Lá fora geava, antecipando um amanhecer com o horizonte tapado de branco.
Mas dentro de casa sentia-se um calor intenso com origem na viva chama de uma enorme lareira. Os proprietários do enorme casarão tinham ido à missa do galo e numa atitude condizente com a quadra, tinham oferecido a possibilidade do engripado filho dos caseiros ficar lá em casa, junto ao quentinho aconchego da enorme lareira, permitindo assim que os serviçais mantivessem também a tradição da ida à missa naquela noite.
A filha do abastado casal ofereceu-se para fazer companhia ao adoentado mancebo, e foi ela quem carregou a fogueira com toros, ao ponto do calor no enorme salão se tornar difícil de suportar, apesar da indumentária mais aligeirada.
O rapaz, ainda febril, ostenta já um brilho na pele tisnada, derretendo naquela atmosfera. Ela foi-se despindo-se, cada vez mais provocante e ele também, mas de febril e incandescente.
O calor aumentou, e num tapete felpudo junto à árvore de natal, rodeados por uma muralha de prendas que entretanto desabou, ela aproximou-se sabida e insinuante.
Ele hesitava tímido e rubro, mas ela insistiu, dengosa e enleante.
Ele ingénuo e inexperiente deixou-se conduzir, limitando-se por perguntar:
-Afinal, onde é que a menina quer que eu ponha isto?
Foi a sua melhor noite de Natal dos últimos anos…
(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)