Novo método permite aos laboratórios detectar a presença de drogas a partir de qualquer pêlo corporal.
Detectar o consumo de droga a partir de uma madeixa de cabelo vai deixar de ser ficção científica nos laboratórios forenses nacionais. A técnica não é nova - apesar de recente - e esteve em investigação, nos últimos anos, no Instituto Nacional de Medicina Legal (INML).
Os resultados foram apresentados no dia 22 de Novembro na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior sob a forma de tese de doutoramento.
Mário Barroso, toxicologista do INML, propõe um método que permite detectar o consumo de drogas a partir de um pedaço de cabelo ou de qualquer outro pêlo da superfície corporal, sem que os laboratórios forenses precisem de comprar tecnologias novas. "O estudo permite que a detecção possa ser feita com equipamentos de rotina, já existentes na maior parte dos laboratórios", admite o presidente do INML, Duarte Nuno Vieira. Havendo equipamento disponível, o novo método vai permitir que, a curto prazo, "aumente o número de perícias usando o cabelo".
O testes podem ser feitos desde que seja recolhida uma amostra de pêlos ou cabelos que pese pelo menos 20 miligramas e tenha "o diâmetro de um lápis e pouco menos de um centímetro de comprimento", explica Mário Barroso, autor da tese.
Até aqui, a detecção de drogas tem sido feita, sobretudo, através de análises ao sangue e à urina. "Métodos que são facilmente contornáveis", admite Duarte Nuno Vieira. Quando, numa empresa, um trabalhador é convocado para um rastreio "basta que deixe de consumir alguns dias antes para que o exame dê negativo", exemplifica. Escapar ao novo método de detecção implicará que o indivíduo "tenha de se depilar completamente, algo que facilmente levantará suspeitas", acrescenta Mário Barroso.
O estudo permite ainda descobrir a presença de drogas nos casos em que não é possível recolher urina ou sangue e em cadáveres em elevado estado de decomposição. "Quando o estado de putrefacção já é avançado, são libertadas substâncias que interferem com os resultados", explica o autor.
A análise ao cabelo pode ainda revelar-se útil quando é preciso saber se um detido é traficante ou consumidor regular. "As penas são completamente diferentes nos dois casos e o diagnóstico através do cabelo pode averiguar se houve um consumo habitual", explica Duarte Nuno Vieira. O cabelo cresce, em média, um centímetro por mês. Por isso, permite uma análise temporal. "À medida que cresce, as drogas ficam aprisionadas no cabelo e a partir de um segmento é possível associar o consumo a um determinado período de tempo no passado", explica Mário Barroso.
O método é válido para todo o tipo de drogas, mas ainda só foi testado nas cocaínas, na heroína e na metadona. Nos últimos anos, o INML já recorria a este tipo de análises, mas só em casos muito pontuais e sobretudo em cadáveres.
Rosa Ramos, aqui