Esta crónica é feita a partir de notícias de jornais.
Em poucos dias, o JN titulou: «Banco Alimentar bateu recorde de ajuda a pobres», «Cantinas de Gaia dão quatro refeições por dia a 14 mil crianças», «Igreja já não tem dinheiro para ajudar os pobres», «120 mil portugueses ganham menos que o salário mínimo», «Mais desemprego e forte recessão espreitam em 2011», «Pobreza já afecta mais de 500 mil trabalhadores», «12% da população activa não ganha o suficiente para sustentar a família». E etc..
Este é um dos lados do espelho da realidade nacional de momento. Do outro lado do espelho, temos notícias sobre membros do Governo que chamam para desempenho de funções oficiais gente da sua cor política ou ex-sócios em empresas particulares.
Temos uma assessora de uma ministra que ganha mais do que esta própria, administradores de uma fundação que auferem ordenados superiores aos do PR e do PM e aquele «superboy-superstar» de que se tem falado muito (e mal...) e que, em sete anos, viu a sua remuneração aumentada em... 1329%! Temos notícias atrás de notícias do chamado caso Face Oculta, um lamaçal autêntico de venalidade e compadrio em que é impossível mexer sem sentir náuseas.
O primeiro grupo de títulos e notícias leva-nos a temer que a fome arraste mais gente para o crime violento, a prostituição e o tráfico de droga. O segundo grupo faz-nos recear que a revolta vá crescendo no íntimo dos portugueses até explodir de qualquer maneira.
Como não acredito em homens providenciais, não me preocupo tanto como muitos se preocupam em saber quem será o próximo presidente e a sigla do próximo Governo. Porque, para mim, não é por aí que sairemos do atoleiro.
E como é? Eu não sei! Mas, para não cair no desespero absoluto, descobri uma saída: vou deixar de ler jornais....
Sérgio Andrade, aqui