terça-feira, 23 de novembro de 2010

A GREVE DE AMANHÃ E O AMANHÃ

Amanhã há greve geral.

Concorde-se ou não com a sua realização, a possibilidade da sua ocorrência é uma evidência de democracia. Desta vez, a motivação próxima são as medidas de austeridade e contenção orçamental apresentadas pelo Governo que têm uma incidência especial sobre os funcionários públicos e o sector empresarial do Estado, exactamente os domínios em que a organização sindical mantém mais força. Estando as duas centrais sindicais juntas, não será de estranhar que seja um sucesso.

Sucesso? Toda a gente já percebeu que, para além da demonstração de capacidade de mobilização por parte da CGTP e da UGT, esta greve não terá quaisquer efeitos práticos. Evidenciará descontentamento, zurzirá o executivo e o grande capital, recusará os cortes salariais e acenará com cenários mais ou menos miríficos. De concreto pouco, ou nada, resultará. No imediato, nenhuma daquelas eventuais sugestões é uma alternativa credível às propostas do Governo. Credibilidade é o nome do jogo. Uma qualquer cedência que se traduzisse em mais despesa geraria reacções negativas das instituições internacionais. Não se trata de resignação, é uma mera constatação - "big brother is watching us".

Não os culpemos: fomos nós que nos colocámos nesta situação, entre outras razões pelo desvario de evolução nas despesas, sobretudo públicas, mas também privadas. Nas actuais circunstâncias temos de nos manter focados nas nossas prioridades, a primeira das quais é reduzir o défice como forma de conter a evolução da dívida. Uma empreitada para vários anos, certamente mais do que uma legislatura, dando sentido ao apelo do governador do Banco de Portugal para um acordo, por seis anos, nessas linhas gerais. Uma tarefa para a qual anúncios só não chegam, quanto mais desvios de rota. O tempo da propaganda chegou ao fim. De boas intenções estão os organismos internacionais cheios. O inferno em que a nossa vida ameaça transformar-se radica aí.

Quer isto dizer que não há alternativas? Que não vale a pena discuti-las? Nada disso, mas é preciso ter uma noção dos tempos. A época que vivemos não é a do Maio de 1968, em que exigir o impossível era realista. Hoje, os tempos são mais prosaicos e o impossível é apenas isso. Alimentámos expectativas de nível médio de vida que em muito excedem a nossa capacidade de gerar riqueza. Essa é a constatação dura e crua que muitos continuam a recusar. Podemos, e devemos, melhorar a distribuição do rendimento e da riqueza. Não devemos tolerar a pobreza. A quem mais tem, e pode, peça-se mais solidariedade.

Não chega? Acabar com os ricos não resolve nenhum problema. Aos ricos exija-se mais investimento que induza crescimento e mais empregos. Sem uma base económica sólida não conseguiremos resolver os problemas sociais. Sem uma economia competitiva não será possível aumentar, consistentemente, os salários e o nível de vida. Esse é ciclo natural das coisas: a riqueza e o rendimento não se inventam, criam-se. O "como" poderia ser uma boa plataforma de convergência entre trabalhadores e patrões. O resto é quase só fumaça.

Alberto Castro, aqui