As crianças devem aprender a gerir o dinheiro desde cedo. Por mais reduzida que seja a quantia disponível , é de pequenino que se aprende a administrar bem os orçamentos, alertam os especialistas, que partilharam com o JN algumas das estratégias de educação financeira.
Com poucos euros, acompanhamento e algum adiamento da satisfação dos desejos dos mais novos é possível. "Tão importante como poupar é saber gerir um orçamento", explicou ao JN Susana Albuquerque, secretária-geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC).
Uma semanada para as crianças mais pequenas ou uma mesada para as maiores são os instrumentos ideais para começar a educação financeira. "Os mais pequenos devem ter semanada porque tem menor capacidade para esperar pela gratificação", aconselhou Susana Albuquerque. A partir dos seis anos, quando vão para a escola, as crianças poderão começar a receber um, dois, três euros por semana, algo que pode acontecer mais cedo, em função da maturidade.
Aos pais, compete cumprir religiosamente o dia estipulado para encher os bolsos dos mais novos, aproveitando o momento da transferência de verbas para falar sobre a forma como as crianças decidiram gastar o dinheiro. "É um momento de educação financeira", alerta Susana Albuquerque. "Deve falar-se do que resultou bem, do que falhou... É assim que se ensina que gerir dinheiro tem a ver com o assumir das consequências das escolhas ", acrescentou a secretária-geral da ASFAC.
Três potes de vidro, devidamente identificados com autocolantes em função da finalidade - um para gastar, outro para poupar e um outro para doar - ajudam as crianças a decidir o que fazer com o dinheiro. Útil é também fixar um objectivo para a poupança: pode ser uma bicicleta, um boneco, um jogo de computador. "É importante que percebam o adiar da gratificação em nome de um objectivo maior", explicou Susana Albuquerque.
A educação financeira começa muito antes da entrada para a escola. "Deve ter início quando as crianças começam a pedir coisas aos pais, por volta dos dois, três anos", situa a secretária-geral da ASFAC. A partir dessa altura, é trabalho dos pais ensinar os filhos a distinguir o que são desejos que estão além das necessidades básicas de comer, dormir e de ter afecto.
"É necessário fazer perceber aos mais pequenos que o dinheiro, que nós utilizamos para comprar as coisas, resulta do nosso trabalho e que é preciso poupar para comprar alguns bens que eles necessitam ou gostariam de ter", disse José Gonçalves, formador do Instituto de Formação Bancária.
"O dinheiro ainda é tabu para muitas famílias, que julgam que não falar dele aos filhos é protege-los", lamenta Susana Albuquerque. "É fundamental que os pais se expressem com ideias simples e com exemplos práticos para que as crianças entendam facilmente o que se lhes pretende transmitir. Explicar que necessitamos de ter dinheiro para comprar comida, para pagar a renda ou a prestação da casa, para satisfazer as necessidades básicas e que também se deve poupar", acrescentou José Gonçalves.
Susana Albuquerque explicará estas e outras estratégias num workshop gratuito, dirigido a pais e crianças, no próximo dia 27, pelas 11 horas, na Infovalor, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
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