Justificou falta à Junta Médica mas no dia do enterro o marido foi confrontado pela Segurança Social.
Após meses de agonia, a família de uma mulher de 62 anos que morreu com cancro, teve uma surpresa quando chegou do funeral da ente-querida. Duas técnicas da Segurança Social queriam saber porque é que Maria Gomes faltou a uma junta médica.
"Cheguei a casa, depois do funeral da minha esposa e tinha, à minha espera, duas senhoras da Segurança Social de Braga a perguntarem-me porque é que a minha mulher tinha faltado a uma junta médica", recorda José António Gomes. Mais de um mês após o funeral de Maria Pereira Gomes, morta aos 62 anos, com um cancro, o marido continua sem conseguir compreender o que se terá passado nos últimos meses de vida da esposa.
A família morava em Braga, na casa onde agora habita apenas José António Gomes. Maria esteve internada durante vários meses a lutar contra um cancro. Contudo, por indicação médica, em Março de 2010, "entrou com os papéis para a reforma". "Durante muito tempo ninguém quis saber de nada nem lhe deram a reforma", salienta o marido. No final de Agosto, a equipa médica que acompanha Maria Gomes declara, por escrito, a incapacidade física da mulher de 62 anos.
Uma incapacidade que a impedia de trabalhar mas que também a impedia de viver sem ajuda e de se apresentar à junta médica marcada pelos serviços da segurança social bracarense para o dia 2 de Setembro deste ano.
Na justificação entregue na Segurança Social, seguia a declaração emitida pelos médicos do Hospital de Braga onde se lia que a doente padecia de "grande debilidade do estado geral". "A doente não apresenta condições físicas nem psíquicas para se apresentar em consulta de Junta Médica", refere o documento.
Segundo José António Gomes, o documento hospitalar seria suficiente para justificar a ausência da esposa na junta médica já que, no documento enviado pelos serviços da Segurança Social, são apontadas como justificações válidas "as faltas motivadas por incapacidade física de se deslocar", desde que comprovadas por uma declaração autenticada pelo médico assistente. Para além da declaração do médico, Maria Gomes tinha um atestado emitido pelos clínicos do Hospital Escala Braga. "Com o relatório dos médicos, todos percebiam que a minha esposa não podia comparecer aos exames", disse o marido.
Cada vez pior, Maria faleceu a 8 de Outubro e o funeral realizou-se no dia seguinte. Depois de meses a acompanhar a doença da esposa e após o funeral, no regresso a casa, José nem acreditava no que lhe estava a acontecer. "Tinha duas fiscais da Segurança Social, à minha espera porque queriam saber porque é que a minha esposa faltou à junta médica", recorda.
Na delegação do centro regional do Instituto de Solidariedade e Segurança Social de Braga foi já entregue um pedido de esclarecimento da situação mas ainda não foi dada qualquer resposta.
O JN tentou mas não conseguiu obter um comentário da Segurança Social de Braga.
Emília Monteiro, aqui