quarta-feira, 24 de novembro de 2010

BRAGA DISCUTE O QUE FAZER COM A HERANÇA ROMANA

A herança romana está por todo o lado. Achados de Bracara Augusta vão ser integrados num novo centro comercial, uma opção cada vez mais comum na cidade. Arqueólogos querem maior articulação entre as instituições para valorizar a história.

Cinco século de presença romana valem a Braga o epíteto de Roma portuguesa. A herança do Império está um pouco por toda a cidade, que tem tentado aprender o que fazer com ela. No final deste mês é inaugurado um novo centro comercial que vai integrar dois núcleos de achados arqueológicos, uma solução que tem vindo a ser adoptada por cada vez mais investidores. Mas os romanos ainda não são uma arma turística, e podiam ser, alertam os especialistas, que defendem uma maior articulação entre as instituições.

Para captar visitantes, há sete anos, a autarquia criou a Braga Romana, uma feira de época que se realiza na Primavera e, no ano passado, lançou os guias móveis, um dispositivo informático que orienta os turistas pelas ruas da cidade, onde incluiu um roteiro romano por espaços emblemáticos como as Termas da Cividade ou a Fonte do Ídolo. O Barroco continua, porém, a ser o seu principal cartão-de-visita.

"Objectivamente, Braga não tem sabido aproveitar a presença romana", critica Luís Fontes, um dos responsáveis da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM), uma espécie de guardiã da herança do Império na cidade. "Não é admissível que as visitas em alguns locais aconteçam apenas por marcação prévia. Um turista quer chegar, entrar e ver", sustenta. "Falta uma maior articulação entre as instituições", reitera o investigador.

Em Julho do ano passado, Luís Fontes foi um dos promotores da proposta de criação de um Parque Arqueológico no concelho que integrasse os principais sítios bracarenses associados à era romana, criando para isso uma estrutura de gestão partilhada que envolvesse a autarquia, a Universidade do Minho, a Igreja Católica e os dois principais museus da cidade, o Pio XII e o D. Diogo de Sousa.

À espera de verbas.
A ideia mereceu o apoio do presidente da câmara, Mesquita Machado, que a incluiu no seu programa eleitoral, mas, quase um ano e meio volvidos, ainda não avançou. "Não vamos deixar cair o projecto", assegura fonte do gabinete do autarca. No entanto, o cenário de crise, que implicou um corte de 30 por cento dos investimentos municipais para o próximo ano, obrigou a um congelamento dos investimentos na arqueologia, incluindo a verba destinada à preservação da ínsula das Carvalheiras.

Mesmo em época de vacas magras, a câmara investe no património, garante o vice-presidente, Vítor Sousa. "Temos valorizado o passado de Bracara Augusta nos vários suportes de promoção turística, especialmente na Galiza, que é o nosso principal mercado", assegura o vereador. A cidade aderiu no ano passado à rede das cidades romanas do Arco Atlântico - que integra, entre outras, Saragoça, Sevilha e Lisboa - e deverá acolher, em 2011, o primeiro congresso dessa associação. Sinal "do relevo e importância" dada à herança romana, comenta Vítor Sousa.

O papel da Câmara de Braga na preservação da presença do Império de Roma na cidade estende-se também à reabilitação urbana. O gabinete municipal de arqueologia avalia todos os pedidos de licenciamento de obras no centro da cidade antes da equipa técnica do Urbanismo. Essa primeira apreciação permite antecipar problemas suscitados por eventuais achados. Mas esta não é uma ciência exacta e as sondagens prévias - que nesta zona são obrigatórias para todas as intervenções - às vezes trazem surpresas, como no caso da recuperação da antiga escola primária da Sé, transformada em sede de junta de freguesia há um ano. As obras permitiram identificar um edifício privado do século I, que manteve ocupação até ao século V, bem como restos dos alicerces da muralha medieval da cidade. Os vestígios foram preservados e podem agora ser visitados, criando um novo local de interesse em Braga.
 
 
Samuel Silva, aqui