segunda-feira, 6 de setembro de 2010

E QUE TAL DAR UM POUCO DE CRÉDITO AOS JUÍZES?

Ferreira Diniz adormeceu sem percalços e aproveitou para explicar que nunca cortou o cabelo nem rapou a barba. Hugo Marçal dormiu tranquilo e contou a história de ter comido sabão azul e branco no tribunal. Manuel Abrantes acordou com o filho aos saltos na cama ainda de madrugada e revelou, à mesa da esplanada, que foi torturado, embora não esclarecendo se foi por outros presos, se pelos polícias.

Do dia seguinte de Carlos Cruz sabemos pouco, mas isso deve-se provavelmente ao facto de termos visto e ouvido quase tudo no dia anterior, até que bebeu um uísque enquanto dava mais uma entrevista "exclusiva". Por outro lado, talvez para compensar o vazio do dia seguinte, é possível saber tudo sobre o dia anterior do arguido mais mediático: ainda se ouvem na rádio uns spots promocionais de uma revista cor-de-rosa que promete partilhar os pormenores da vida de Carlos Cruz nos dias que antecederam a sentença, incluindo com quem partilhou as angústias e pelos vistos em que praias.

Há quem designe este espectáculo como um circo mediático, sobretudo televisivo. Há quem vá um pouco mais longe e considere que é despropositado e chocante. Ninguém pode negar aos seis condenados o seu direito a clamarem inocência, ou a hipótese de apelarem para um tribunal superior. Mas também é preciso perceber que, a partir da leitura da sentença, já não temos de presumir da sua inocência.

Ao contrário do que gritam, com demasiado espalhafato, este seis senhores condenados por crimes repugnantes, o julgamento não decorreu num tribunal da idade das trevas. Apesar de todos os seus defeitos, este país ainda vive em democracia. É verdade que os juízes, como qualquer outro, podem tomam decisões erradas. Mas para as corrigir existem mecanismos democráticos. E enquanto isso não acontece seria melhor que Carlos Cruz e restantes condenados mantivessem algum recato. Até ver, merece mais crédito um acórdão de um colectivo de juízes devidamente preparados para julgar do que as opiniões inflamadas de um condenado por abuso sexual de menores, ainda que seja um apresentador de televisão muito conhecido.

Rafael Barbosa, aqui