terça-feira, 17 de agosto de 2010

A ÚNICA FORMA DE TRAVAR OS INCÊNDIOS

O comandante Gil Martins, da Protecção Civil, afirmou no domingo que "97 por cento dos incêndios têm origem humana". A maioria, garante, deflagra à noite, para dificultar a mobilização de meios por parte dos bombeiros. A Polícia Judiciária, pelo contrário, desmente que assim seja. E aponta a "falta de ordenamento e limpeza das florestas, as temperaturas muito altas e a negligência humana" como as principais causas dos incêndios.

Para quem vê as suas árvores, casas ou armazéns reduzidos a cinzas, pouco importa de que lado está a razão. No entanto, é impossível ficar indiferente a esta divergência, de tão vincada que é e por ser assumida publicamente por quadros superiores de duas instituições que estão juntas na prevenção e no combate aos incêndios. Pode não prejudicar, mas opiniões tão antagónicas sobre um fenómeno como este não podem ajudar a encontrar uma tendência, de forma a agir eficazmente para impedir o País de arder.

Haverá de tudo. No caso dos incendiários, resta-nos confiar em quem investiga e acreditar que populações, bombeiros e protecção civil estão despertas para detectar comportamentos estranhos. Mas já no que diz respeito à limpeza dos terrenos - públicos e privados -, as palavras ditas enquanto as chamas alastram são mera demagogia. Venham elas de políticos, comandantes, bombeiros ou populares, porque todos eles partilham a responsabilidade de fazer aquilo que todos se queixam de não estar feito. A exigência e o rigor na manutenção da florestas e dos terrenos circundantes é a única esperança para um flagelo que já tanto roubou a Portugal e ameaça continuar a roubar. Pelo menos, enquanto houver árvores para arder. Ao Governo, exige-se que legisle com firmeza, à Justiça que seja severa com os infractores, e aos que estão no terreno - autoridades e populações -, que denunciem a não manutenção das matas com a estridência com que lamentam o flagelo do fogo.

A chocante "justiça" talibã no Afeganistão.
A chocante execução pública de dois jovens acusados de adultério no Afeganistão, nove anos depois da invasão do país por forças militares lideradas pelos Estados Unidos, revela melhor do que todos os discursos até que ponto a intenção de Washington de "regenerar" a sociedade afegã está em vias de redundar num monumental fracasso. Foi, alegadamente, também para evitar que pessoas como Sadiqa e Qayum - os jovens agora executados - estivessem à mercê dos aspectos mais bárbaros da chamada "justiça islâmica" que os EUA e diversos países da Europa Ocidental enviaram soldados para o Afeganistão. Mas a administração corrupta do Presidente Karzai e a atitude ambivalente do vizinho Paquistão têm facilitado a reconstituição da guerrilha talibã em vastas áreas do país. A execução a tiro de uma viúva grávida, há poucos dias, e agora a morte por apedrejamento dos supostos adúlteros, demonstram bem que há zonas do Afeganistão onde os insurgentes extremistas impõem os seus códigos de conduta e fazem valer a sua lei. À margem das instituições nominais do país, da justiça oficial e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Pense-se o que se pensar sobre a intervenção militar no Afeganistão e dos seus resultados, nada pode justificar o ressurgimento de punições que há muito foram justamente rejeitadas pelo mundo civilizado. Contemporizar com práticas tão repugnantes como as lapidações, seja em nome do relativismo cultural e da suposta necessidade de respeitar tradições alheias, seja em nome do mero pragmatismo político, é algo totalmente inaceitável. Isto tem de ser repetido as vezes que forem necessárias. Para que a barbárie tenha fim.

Editorial do DN de hoje, aqui