quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PRIMEIRA IMPRESSÃO FICA, MESMO QUE A OPINIÃO MUDE

Um jovem investigador (28 anos) está com um pé em Portugal e outro nos EUA, a pesquisar algo de que já desconfiávamos: a primeira impressão de outra pessoa é sempre marcante, senão definitiva. Rui Soares Sousa quer saber qual o papel da memória nisto.

Estaríamos "perdidos" na sociedade, caso não fôssemos capazes de formar impressões sobre os outros, mesmo que seja só uma ou a primeira de uma série. O investigador em Psicologia Cognitiva Rui Soares Costa dá-nos um exemplo da importância dessas impressões, que vamos codificando ao longo das nossas experiências e contactos.

Para pedirmos uma orientação a um estranho, quase de certeza iremos evitar quem tenha cara de poucos amigos ou de "amigo do alheio". Porque concebemos um retrato desse tipo de pessoas, formado com base em primeiras impressões, depois ajustadas, contrariadas ou confirmadas por uma sequência de outras. Mas a primeira carece de muitos "argumentos" para ser combatida.

Um estudo feito pelo actual colaborador de Rui Soares Costa na Universidade de Princeton (EUA), publicado em 2005 pela revista "Science", mostrou o papel das primeiras impressões que colhemos, quando encontramos uma pessoa.

Alexander Todorov estudou os mecanismos em acção nos "flashes" iniciais de um "encontro", apresentando a voluntários as fotos de candidatos a eleições locais numa zona distante dos EUA. Em fracções de tempo que não chegavam ao segundo. Verificou depois que a anotação de competência ou incompetência pedida aos voluntários postos perante esses rostos haveria de coincidir com os resultados eleitorais mais tarde verificados.

Ou seja: os votos na urna terão respondido à mesma primeira impressão traçada em laboratório. O êxito dos candidatos ficava assim traçado pelo "flash" inicial, capaz de "distinguir" na visão do rosto atributos de competência ou o contrário.

"As pessoas não pensam que são capazes de muito rapidamente ter a noção do outro", comenta Rui Soares Costa que está a fazer o seu pós-doutoramento em Princeton e no Centro de Investigação em Psicologia (CIPUL) da Universidade de Lisboa.

O trabalho de investigação, com uma bolsa para seis anos, incide na forma como memorizamos a primeira impressão e a sequência das seguintes, com o cérebro a organizar a primazia e predominância entre elas. Esses mecanismos da memória explicarão como recuperamos a primeira impressão e/ou as seguintes sempre que evocamos outra pessoa.

Tal mecanismo, quando entendido, poderá explicar porque substituímos em alguns casos o tipo de impressão "negativa" ou "positiva", mas sempre com a primeira a pelo menos tentar impor-se. "A ordem das impressões, a sua sequência depois da primeira, é fundamental e fica representada na memória", explica Rui Soares Costa, admitindo que há um decréscimo, com o número de contactos, da marca deixada por cada impressão que temos de uma pessoa. Como se fosse uma escada só com sentido descendente, cujos degraus sabemos situar.

Ao investigador interessa sobretudo entender como as pessoas baseiam os seus julgamentos sobre os outros pela ordem da "informatividade", ou seja pelo grau de informação que cada contacto encerra. Para o seu projecto, vai socorrer-se de ressonância magnética funcional , entre outros processos de imagiologia.

Eduarda Ferreira aqui