terça-feira, 17 de agosto de 2010

MAIORIA DOS FOGOS INVESTIGADOS PELA PJ NÃO TEM MÃO CRIMINOSA

Directoria de Lisboa atribui grande parte da culpa ao desleixo associado às altas temperaturas e à falta de limpeza.

A Polícia Judiciária (PJ) nega que a maioria dos incêndios tenha mão criminosa, apesar de ter sido anunciada ontem a detenção de mais quatro incendiários (ver texto). A negligência associada às altas temperaturas e a falta de limpeza das matas está na origem de grande parte dos fogos que há semanas asso-lam o País, segundo aquele órgão de polícia criminal que tem a competência para investigar os fogos. Na directoria de Lisboa foram duplicados os meios afectos a esta área criminal.

Em conferência de imprensa no domingo, o comandante operacional nacional da Protecção Civil, Gil Martins, adiantou que, em Portugal, 97% dos incêndios têm origem humana. O que, segundo a PJ, não tem de estar forçosamente associado a fogos com mão criminosa.

"Temos a obrigação de fazer a leitura objectiva dos factos e, da inspecção aos locais das ocorrências feita por elementos qualificados da Polícia Técnica e Científica, essa generalizada conclusão não resulta clara", disse ao DN José Braz, perante a afirmação de que por trás de cada incêndio existe uma conduta criminosa intencional.

Para o responsável pela Directoria de Lisboa e Vale do Tejo (DLVT) da PJ é preciso "fugir à tentação fácil de prender pessoas com base no mero rumor e na aparência de factos verosímeis que nestes momentos trágicos tendem a ganhar força".

Lembra José Braz que "um qualquer cigarro ou objecto de vidro lançado para a berma da estrada é potencialmente capaz de dar início a um incêndio de dantescas proporções".

Ainda segundo este responsável, existem três factores que têm um efeito determinante no aumento dos incêndios florestais: "A falta de ordenamento e limpeza do território em geral e da floresta em particular; as temperaturas muito altas; e as condutas humanas negligentes." Uma vez conjugadas estas condições, é a "receita" para os grandes incêndios.

De acordo com os dados da Protecção Civil, de 1 de Junho a 9 de Agosto, registou-se um significativo aumento de incêndios florestais, à volta de 40%, na área de competência territorial daquela directoria, relativamente ao período homólogo de 2009.

José Braz admite que, paralelamente, também aumentou o número de ocorrências comprovadamente criminosas relativamente ao ano passado. Mas garante que "em percentagem muito inferior".

A DLVT durante o período estival praticamente duplicou o efectivo e os meios afectos à investigação dos incêndios.

Neste momento, a PJ investiga incêndios florestais em Sintra, Belas e Évora, com a colaboração dos bombeiros e autoridades locais.

O ano passado foi identificado e detido o autor de incêndios em Belas, ocorridos em 2009 e em 2008. Este indivíduo continua detido pelo que, sublinha José Braz, "não será o autor de focos de incêndio deste ano na mesma região e que a PJ investiga neste momento". Mas "não significa que a origem não seja igualmente criminosa", frisou.

Este ano foi já identificado e detido o presumível autor de vários incêndios na região de Elvas. Foram também identificados os autores de outros incêndios também em Elvas e em Évora que, por serem menores, não foram responsabilizados criminalmente.

Licínio Lima, aqui