terça-feira, 3 de agosto de 2010

DA RAZÃO E DA EMOÇÃO

A Razão tem-me amarrado ao século XXI, mas a Emoção puxa-me, frequentemente, para o século XX - um bom par de décadas lá para trás… Para um tempo em que a máquina existia para ajudar o Homem e não para prejudicá-lo, para um tempo em que ter-se um grau académico não era usado contra nós. Receio que a estas horas já haja quem esteja a chamar-me retrógrado, mas a verdade é que não tento parar o tempo, nem opor-me ao avanço da técnica. Só que não consigo fechar os olhos à evidência de que a máquina ameaça tornar-se numa espécie de monstro de Frankenstein.

Fiquemo-nos por aqui: o computador - quantas pessoas já lançou para o desemprego, quantas mais continuará a lançar? Posso, por isso, ignorar o computador? Não posso. Mas posso preocupar-me com os 1200 portageiros que vão para a rua quando se virem substituídos por máquinas, que a Brisa tenciona pôr nas auto-estradas. É apenas um exemplo entre muitos…

Sim, aflige-me o problema do desemprego - mesmo que seja o desemprego dos outros, e não meu. E vem o Governo e diz que quer 20% da população com ensino superior. E vem o bastonário da Ordem dos Advogados e, em entrevista ao JN, praticamente grita: «Não vão para Direito! Já há advogados a mais! Os clientes não chegam para todos!». E o mesmo se passará a nível dos médicos (400 dentistas forçados a emigrar para o Reino Unido).

Não posso pronunciar-me contra a máquina, não me pronunciarei contra a especialização; mas inquieto-me quanto ao futuro de um país com desempregados porque têm habilitações a menos e com desempregados porque têm habilitações a mais. Não posso fazer nada quanto a isso; e o Governo, poderá? Desejo-lhe toda a sorte do Mundo!

Sérgio Andrade, aqui