Pouco mais de seis meses de escolhermos o seu sucessor, Cavaco Silva ainda não nos disse se ele próprio será candidato. Nada de novo.
Politicamente, convém ao presidente seguir a estratégia dos seus antecessores que apenas anunciaram a recandidatura três meses antes das eleições. O que faz pensar são outros silêncios de Cavaco que recusa, recorrentemente, pronunciar-se em público sobre questões em debate na sociedade portuguesa. Em diferentes ocasiões, não quis falar sobre a opção pelo TGV; a greve dos professores; as faltas dos deputados; as condições do primeiro-ministro para continuar no cargo; a confiança no conselheiro de Estado Dias Loureiro; os dados da economia portuguesa, divulgados pelo INE.
Igualmente, escusou-se a comentar a decisão do Governo sobre o BPP; o encerramento da Linha do Corgo; o pedido dos familiares das vítimas de Entre-os-Rios para serem dispensados do pagamento das custas do processo relativo à queda da ponte; o caso "Face Oculta".
Sem comentários ficaram também a possibilidade de Manuel Alegre ser seu adversário na corrida a Belém; a hipótese de uma candidatura presidencial apoiada pela Direita; a proposta de revisão constitucional; a dívida soberana de Portugal; o aumento de impostos; o uso da "golden share" na PT; as previsões do Boletim Económico de Verão do Banco de Portugal.
Cavaco Silva justifica estes silêncios com o entendimento que faz do seu papel. Um presidente da República, diz, "não deve comentar em público questões de Estado", como "deve ser sábio para nunca se intrometer na vida interna dos partidos", nem "interferir na organização do funcionamento da Assembleia da República e das assembleias legislativas regionais". Não é, também, da sua competência comentar medidas concretas do Executivo, ou permitir que "as suas declarações possam ser aproveitadas pelo debate político-partidário".
O presidente "no respeito pelo princípio da separação de poderes", também não se pronuncia sobre "processos em curso", nem faz "comentários em público" sobre membros do Governo, chefes militares, deputados ou embaixadores. Com esta postura, Cavaco Silva não vai à queima, gere bem a sua imagem e consolida a sua identidade simbólica no plano da representação. Por tudo isto, diga ele quando disser que vai recandidatar-se, porque vai, são favas contadas. Continuará em Belém.
Mário Contumélias, aqui