Em Outubro de 2009, foi apresentada queixa-crime (difamação e injúria) contra o eng.º José Sócrates. O caso acaba de ser arquivado, mas entretanto decerto houve quem sussurrasse que a demora se deveria ao facto de se tratar do primeiro-ministro. Suspeita maldosa! O que sucede é que entre nós o primeiro defeito (de muitos…) que se pode apontar à Justiça é a sua lentidão. Extrema lentidão, capaz de fazer corar de inveja um caracol.
Para que se aceite o exemplo que vou dar, há que esclarecer que considerarei a palavra Justiça no seu sentido mais amplo - e numa das suas vertentes: a punição dos infractores. Ora sucede que eu infringi o Código da Estrada, segundo o Comando Metropolitano do Porto da PSP: estacionei o automóvel em lugar proibido. E quando aconteceu isso? Em 5 de Novembro de 2009. E quando fui informado disso? Em 24 de Junho de 2010. Como estamos no século XXI e em plena era dos computadores, pensava eu que a PSP não tinha mais do que introduzir na maquineta a matrícula do carro para em segundos ficar a saber quem era o proprietário. Mas como, aparentemente, só conseguiu isso 231 dias depois, deduzo que a PSP é incapaz, por si própria, de descobrir de imediato a identidade dos prevaricadores. E até me assaltam inquietantes dúvidas. Terá a PSP pedido o auxílio do computador central da Interpol? Dos ficheiros secretos da CIA? Da base de dados do MI5?
Se a Justiça (amplamente considerada, repito) não é capaz de ser célere num caso de transgressão, como se pode exigir-lhe celeridade em caso mais sensível, como esse de crimes alegadamente cometidos pelo PM?
Um atraso de sete meses e três semanas no processamento de um auto de notificação por parte da PSP só merece um comentário: é ridículo, é vergonhoso, é escandaloso!
Sérgio Andrade in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1611263&opiniao=S%E9rgio%20de%20Andrade