Passos Coelho e Paulo Portas já se encontraram para conversar pelo menos duas vezes desde que Passos chegou à liderança do PSD e há duas conclusões já fixadas na estratégia pré-eleitoral dos dois partidos. Portas chegou a pensar numa coligação pré-eleitoral, mas Passos não está disponível. O líder social-democrata quer ir a votos sozinho e lutará por uma maioria absoluta, embora reserve ao CDS o estatuto de "parceiro natural".
"Mesmo que o PSD tenha uma maioria absoluta, o CDS e o seu líder terão sempre um papel importante no nosso projeto", afirmou ao Expresso o porta-voz social-democrata. Miguel Relvas diz que "a realidade do país é tão grave e as reformas necessárias tão profundas, que vai ser preciso agregar sectores de opinião e partidos para levar por diante o que tem que ser feito".
Embora afaste uma coligação pré-eleitoral com o partido de Portas - que, negociada a partir da atual representatividade parlamentar do CDS (21 deputados), seria desvantajosa para o PSD -, a direção social-democrata sabe que tem que acautelar uma boa relação entre os dois partidos, até para a eventualidade de precisar do CDS caso não tenha maioria absoluta.
Relvas confirma isso mesmo: "É óbvio que se houver uma coligação será com o CDS, o nosso parceiro natural". O braço-direito de Pedro Passos insiste, no entanto, "que vai ter que se fazer uma frente eleitoral além dos partidos" e garante que "o PSD só voltará a ser poder com uma solução não tradicional".
Quanto ao papel reservado a Paulo Portas num futuro governo, Relvas considera "óbvio que, se houver uma coligação, Paulo Portas terá que ter uma posição adequada". Talvez o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que lhe foi recusado no Governo de Santana Lopes por objeção do então Presidente, Jorge Sampaio - Portas, como parceiro de coligação do PSD entre 2002 e 2005, ocupou a pasta da Defesa.
No fundo, a atual direção do PSD tenciona olhar para o CDS como "um partido satélite que merece ser tratado com muito carinho" (fonte do PSD dixit).
CDS quer preparar terreno
A ausência de coligação pré-eleitoral obriga o CDS a resistir ao crescimento do PSD (a crença no Caldas é que esse crescimento tem sido sobretudo transferência direta de eleitores do PS), mas também deixa os centristas à vontade para colar os sociais-democratas às políticas de Sócrates. Pode assim marcar distâncias e segurar eleitorado, reforçando a ideia de que o CDS é fiel a um caderno de encargos. Mas Portas também sabe que precisa de um PSD forte pois só chega ao Governo ao lado de Passos, o que aconselha contactos discretos e um tom moderado nas críticas.
Portas e Passos conhecem-se bem (desde os anos 80, na JSD), tratam-se por tu e, além do contacto direto entre ambos não falta quem faça pontes entre os dois partidos, a começar por Ângelo Correia. Para o CDS uma coisa é certa: não se pode repetir a experiência da coligação com Durão Barroso, feita em cima do joelho e sem programa comum previamente negociado. Esse caminho começa após a rentrée: o CDS vai antecipar o seu congresso para o Outono, para aprovar um novo programa, e o PSD vai lançar os seus estados gerais.
Depois, as presidenciais abrem o calendário. "A eleição de Cavaco Silva é o virar de página do ciclo socialista e eu não quero o CDS fora disso", disse Portas à sua direção, na última reunião da comissão política. Ou seja: quer estar na maioria presidencial e fazer parte do novo ciclo pós-Sócrates. O líder do CDS até já teorizou, numa entrevista ao "Diário Económico", sobre as condições em que poderá apresentar uma moção de censura: quando tiver a garantia de que esta poderá ser aprovada, fazendo cair o Governo, e houver condições para uma alternativa estruturada. Isso não se faz sem o PSD. Se (ou quando) o CDS apresentar uma moção de censura, será concertado com Passos.
Ângela Silva e Filipe Santos Costa in http://clix.expresso.pt/passos-coelho-conta-com-portas-depois-das-eleicoes=f590757