quinta-feira, 1 de julho de 2010

MENINO MIMADO NÃO FAZ FALTA

Pergunta elementar, mas talvez seja pertinente: devem representar a equipa nacional os melhores ou os que mais suam? Resposta óbvia: o ideal é associar inspiração a transpiração. É preciso dizer que Cristiano Ronaldo não patenteou nem uma nem outra, no Mundial da África do Sul. Quis apenas mostrar-se, tratar da sua vidinha, alcandorar-se a um pódio acima dos companheiros.
O resultado da ausência de humildade só poderia ser o que foi, contentar-se com as vitórias de Pirro do título de melhor jogador em três partidas, enquanto Messi, David Villa e mais uns quantos subiam ao firmamento.
Não viria daí nenhum mal ao mundo se a passagem de Ronaldo pelo Mundial ficasse apenas marcada pela sobranceria. Mas não ficou: estendeu-se a um arrogante "perguntem ao Carlos Queiroz", que mostra à saciedade a sua faceta de menino mimado. Ora se há coisa que a selecção nacional pode - deve! - dispensar é a presença de meninos mimados. Ser o melhor do Mundo é um estatuto passageiro, que reclama "prova de vida" em cada jogo. E não é, de todo, chave para entrar no lote de escolhidos. De duas uma, portanto: ou Ronaldo muda de atitude ou não deve voltar a vestir a camisola das quinas.
Sem pretensão de debater tácticas, por falta de competência de quem estas linhas assina, fiquemo-nos pela percepção. A de que Ronaldo fez o que fez porque faltou pulso a quem era suposto pô-lo na ordem - o treinador, mas também os responsáveis da Federação.
Faltou coragem, que é como quem diz liderança. Fica pela enésima vez provado que com jogadores que se apresentam nos estágios de helicóptero ou em carros topo de gama a persuasão não pega; é preciso murro na mesa. É por isso que a rábula do tamanho da camisola, pequeno de mais para o corpo de certos jogadores, de que ontem falou Queiroz, peca por tardia. Tivesse tirado as medidas antes, não no fim da festa. Ou olhado para o exemplo de Eduardo ou Coentrão, que até de tronco nu dariam o litro.
Não, não devem ser imputadas a Cristiano Ronaldo culpas pela derrota. Nem faz sentido identificar responsáveis. O que se passou descreve-se numa frase: a qualidade da equipa de Espanha é superior à portuguesa e, mais importante, demonstrou-o em campo. Tivesse Ronaldo jogado à sua altura e, provavelmente, o resultado não seria diferente. O resto é conversa, tema para animadas tertúlias de treinadores de bancada, que somos todos nós.

Paulo Martins in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1607537&opiniao=Paulo%20Martins