Freitas do Amaral, que com Mário Soares protagonizou uma das mais históricas disputas políticas nas presidenciais de 1986, parece que afirmou há uns dias que o socialista é o pai e principal inspirador do actual sistema democrático português, elogiando o histórico socialista pelo facto de este ter sempre distinguido as relações pessoais do combate político.
O que aqui interessa saber, não é se isto aconteceu ou não; muito mais importante do que isso é saber se é ou não possível uma relação pessoal com um inimigo político que se deteste profundamente e que defende sempre o oposto daquilo que defendemos: para usar uma expressão de Carl Schmitt, jurista* alemão que é por muitos considerado o maior pensador político do século XX, a amizade pessoal consegue sobreviver a uma inimizade política existencial?
* Jurista – o mesmo que licenciado em direito, para quem utiliza a linguagem da adversidade política fundamentalista