Os trabalhadores viram-se
livres da TSU (taxa social única).
É um alívio que Passos anunciou antes da
realização do Conselho de Estado que sancionou este necessário recuo, vital
para a continuação do diálogo social a que voltou Coelho.
É um emendar de mão,
que não humilha, embora a TSU fosse nódoa a evitar. Terá assim um pouco a sabor
de derrota, mas a humildade também fica bem aos políticos, quando falham,
também redime.
Antes da manifestação do dia 15 que foi, sem dúvida, um sério aviso à navegação, um murro na mesa do descontentamento geral dos portugueses, já o governo se tinha apercebido do enorme e gritante erro. Claro, quem ganhou com esta medida, mal estudada e pior explicadas, foram as forças anti-troika.
Resultado: as sondagens foram um desastre para o PSD que se viu em queda livre,
menos 12% nas intenções de votos, ao contrário do PS, que cavalgou os partidos
do poder. Quem ganhou claramente, é sempre assim, foi a esquerda radical, PCP e
BE, a demagogia. O povo ainda adora promessas, ilusões. Agora, sobre alguns
cacos da iniciada crise política, os partidos querem tirar dividendos, chamando
a si os louros do derrube da TSU, que não do governo que seria, nesta altura do
campeonato, o pior que poderia acontecer ao país.
Isso acarretaria a suspensão
do trabalho da Troika e ia ocorrer a falta de fundos para pagar aos
funcionários públicos e o Estado cumprir com os seus compromissos. Todos estão
contra a Troika que abusa, é certo, mas está a garantir-lhes o salário. Se
enveredarmos pela ingovernabilidade e incumprimento dos compromissos, greves e
manifestações e desordens, ficaremos na situação grega.
Foi-se a TSU, mas outras
medidas virão para a necessária diminuição do gigantesco défice. É impensável
querer que um governo tape num ano, com medidas e poucos sacrifícios e com
algumas asneiras, o buracão de vinte anos. Para além do corte de meio salário
nos sectores público e privado, penalização da classe alta (casas de luxo,
carros de alta cilindrada, barcos e aviões, rendimentos de capital), está na
hora também de ir aos bolsos dos políticos, ministros, deputados, boys e girls,
especialistas e assessores e ex-governantes.
Será este um meio do governo
recuperar a credibilidade abalada.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada, de 27 de Setembro de 2012.