segunda-feira, 16 de abril de 2012

BURRICADAS

Hoje apetece-me iniciar esta crónica com a invocação de sexta-feira da Paixão: “É a hora de noa, quando sofre o meu povo/quando cresce a dor e o engano, /quando falta o amor”.

É que o nosso povo está a passar por uma prova de sexta-feira de Paixão, em que não faltam os judas, que traem o que disseram na véspera, os Pilatos que sempre lavam as mãos e os algozes que à austeridade, que devia ter limites, acrescentam mais austeridade,  quando a cruz já é demasiada pesada e injusta para a classe que tudo aguenta e paga.


Até as burricadas dos nossos governantes. Com esta incógnita: não se sabe se há (melhor) vida depois da troika e do calvário.

Há dias, na AR o governo de Coelho teve um dia péssimo, para esquecer. Quem não esquecerá é o povo a quem foi fácil concluir que Passos, Victor Gaspar e Relvas vinham a mentir quanto à duração do assalto aos subsídios de férias e de Natal (dois anos). No mínimo naquelas cabeças reinava uma grande confusão.

Um dizia uma coisa, outro dizia outra. Das duas uma: ou estava estabelecido que os cortes incidiam apenas nos anos 2012 e 2013  ou, de repente, houve necessidade de realizar mais fundos para tapar inesperados buracos. E, o remédio está sempre à mão (até quando?), ir de novo aos bolsos dos contribuintes, em 2014, quando Coelho vinha dizendo que não ia haver mais austeridade.

Não era Passos Coelho que na oposição dizia que “nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra”? Já disseram mais do que uma vez, o que é motivo de apreensão. E nem o facto de Victor Gaspar, que parecia muito certinho, vir dizer que houvera um lapso, convence ninguém.

E, como um mal nunca vem só, ainda não foi desta que o povo viu promulgada a lei que criminaliza o enriquecimento ilícito. O Tribunal Constitucional, que se pronunciou a pedido do PR, sobre artigos considerados contrários à Lei Fundamental, violando a presunção de inocência, chumbou a lei. Ficou assim adiado o combate à corrupção. O PS bateu palmas, os outros partidos prometeram reformular a proposta quanto ao ónus da prova… Enquanto a lei vai e vem, os depredadores deste país com contas chorudas nos paraísos fiscais folgam as costas e têm motivos para mais um sorriso sacana.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 12 de Abril de 2012.