terça-feira, 17 de abril de 2012

'ACÚRCIO CORREIA DA SILVA E A BAIRRADA'

Foi lançado no passado sábado, dia 14 de abril, pelas 16,00 horas, no auditório da Biblioteca Municipal de Oliveira do Bairro, o livro “Acúrcio Correia da Silva e a Bairrada”, da autoria do escritor Breda de Carvalho.

 
Os co-editores, a ANOB (Associação dos Naturais e Amigos de Oliveira do Bairro, que teve a iniciativa, que fazia parte do seu plano de atividades) e a AJEB (Associação dos Jornalistas e Escritores da Bairrada, que apoiou de vários modos) pretendem que este evento constitua uma justa homenagem, fazendo memória de um dos filhos mais ilustres do concelho, nascido no lugar do Cercal, o mais promissor dos poetas bairradinos, das primeiras décadas do séc. XX, que a morte levou aos 35 anos de idade, depois de uma juventude e vida dedicadas ao jornalismo, à poesia, ao teatro para crianças e aos mais desfavorecidos. Passou, há poucos dias, o 87.º aniversário da sua morte.

Integraram este evento uma declamação de poesia e a leitura de alguns pequenos textos em prosa, uma exposição de obras publicadas e de inéditos, da responsabilidade do Museu de S. Pedro da Palhaça, e uma missa em sufrágio do eminente orador sacro, na igreja paroquial de Oliveira do Bairro.

Foi orador principal o escritor António Capão, membro da Academia Portuguesa de História, conhecedor profundo de toda a obra inédita do padre que procurava levar a luz a todos, sem distinção; o poeta fluente, que não passava um dia sem escrever; o jornalista sereno, quase amoroso, mas também polémico contra as injustiças do seu tempo; o amigo dos pobres, vivendo ele também sem conforto algum, nomeadamente em Sangalhos, onde foi pároco, muito amado por muito próximo das pessoas (o funeral, concorridíssimo, entre Sangalhos e Oliveira do Bairro, foi eloquente prova disso); o especial amigo das crianças a quem dedicou muito da sua obra, não só escrevendo para elas peças de teatro, mas levando-as mesmo a representá-las; o dinamizador e fundador da Plêiade Bairradina, em 1919, que congregou poetas, escritores e jornalistas e simples cidadãos, amigos da cultura, à volta de um ideal – fazer da região Bairrada uma terra conhecida, promovendo-a, de diversas formas – “a pátria pequena”, “ a terra dos Pâmpanos”, “a Terra Verde”. Queria também animá-la e dinamizá-la pela cultura.


Padre Acúrcio Correia da Silva era intrinsecamente um sonhador, embora de rosto rude, como rezam as memórias, um verdadeiro líder, um combatente pela verdade, um revolucionário contra todas as formas de fome e miséria e opressão que ele enxergava na sociedade, monárquica ou republicana. Deu-se todo na peugada da cultura, na entrega aos outros.

 
É esta notável figura (não será excessivo dizer que, no seu tempo e mesmo hoje, é um luzeiro de cultura, por certo o maior no seu concelho) que a ANOB e a AJEB homenagearam, para que não se deixe morrer no humilde busto, mas se dê a conhecer às novas gerações como grande referência humana e cultural, grande figura de padre inquieto e intelectual atento ao seu tempo, todavia nem sempre lembrada por quem devia.

Adaptação do texto de Armor Pires Mota publicado aqui