domingo, 1 de maio de 2011

QUANDO O PEIXE NÃO MORRE PELA BOCA

Quem disser que não quer, não vai ou não gosta de governar com o FMI está apenas a fazer perder o nosso tempo.

O próximo primeiro-ministro tem de resignar-se à ideia.

Na imparável diabolização que o senso-comum português tem feito dos denominados "senhores da troika", também conhecidos por "senhores do FMI", há um dado curioso que, embora possa parecer menor, é paradigmático.

Falo de um comportamento que não estamos habituados a ver potenciado pela classe política portuguesa.

Falo da forma como os técnicos do FMI, do BCE e da Comissão Europeia têm entrado e saído de reuniões com os mais diversos grupos de interesse sem pronunciar uma única palavra. Falo da cuidada gestão pública que têm feito de uma avalancha informativa que vai abater-se sobre nós como um furacão. Falo da razoabilidade deste comportamento, do lamento que nos resta ao saber que nunca em Portugal se tratam matérias de Estado no recato dos gabinetes. Falo, por exemplo, de uma suposta reunião secreta entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho que não só não o foi como, ainda por cima, se transformou numa batalhazinha verbal sobre quem teria violado mais a privacidade do encontro.

Já todos sabemos que, quando a troika decidir verbalizar o nosso futuro em directo nas televisões, as palavras não saberão a mel, mas pelo menos temos a certeza de que aquilo será para valer, que mesmo que uns e outros concordem ou discordem, terão de subjugar-se à cartilha que nos será imposta por aqueles que, emprestando-nos dinheiro, ainda vão ter lucro com a nossa desgraça.

Quem disser que não quer, não vai ou não gosta de governar com o FMI está apenas a fazer perder o nosso tempo. O próximo primeiro-ministro de Portugal tem de resignar-se à ideia e focar a sua preocupação (a mediática e não só) em não deixar o país afundar-se numa negritude colectiva, à imagem do que está a acontecer, por exemplo, na Grécia.

Não prometer aquilo que não pode cumprir-se, como sugeriu Cavaco Silva, parece-me um ponto de partida válido. Falar menos do que tem sido notório (particularmente no caso de Passos Coelho, que, na ânsia de se afirmar, está a "cansar" o crédito eleitoral de que ainda vai dispondo) parece-me ajuizado. Tirar de tudo isto esta lição comportamental também me parece útil: não aparecer tantas vezes na televisão e nos jornais faz bem à democracia. E é, sobretudo, uma questão de higiene.

Pedro Ivo Carvalho, aqui