quinta-feira, 7 de julho de 2011

UM PAÍS DE PAPELÃO

Os casamentos são tramados!

Dão trabalho quando estamos neles e continuam a martirizar-nos depois de mortos de morte natural. Isto é verdade sobretudo num país como o nosso, votado por tradição aos duvidosos prazeres da burocracia.

Um lamentável pai que tenha o azar de não definir o montante da pensão de alimentos no momento do desenlace está tramado. Se for ao Tribunal de Família, no afamado Campus de Justiça, deve saber o número do processo, do juízo e da secção em que tramitou.

Se não, cairá nas garras de uma funcionária de extrema simpatia, mas correspondente confusão mental, que o deixará sair do gabinete com uma única certeza: tem de saber o nº do processo. Onde? Na secretaria. Qual? A do rés-do-chão. Mas, atenção, aí só há datas, juízo e secção. Nada de processo.

Esse mora no terceiro piso, caso a sua seja a segunda secção. Aí chegada, a vítima espera a um balcão, enquanto os funcionários labutam, imperturbáveis. Serei invisível? Não. Um papel colado no balcão explica: "Tem de tocar à campainha. Uma vez, para primeira secção, duas para a segunda, etc". É verde a campainha, parece uma daquelas dos antigos hotéis, mas em plástico. Ao vê-la, a vítima tem uma epifania e percebe tudo: a modernidade e o futuro estão lá fora. Cá dentro, labuta a mesma eterna e insanável burocracia.

F. J. Gonçalves, aqui